O Tédio
Heinrich Heine
- Eu venho aqui, doutor, fazer-vos uma consulta.
A doença que me punge e esteriliza a mocidade e o espírito,
resulta de uma chaga que nunca cicatriza.
Muito embora comum a toda gente, a dor que sofro,
- atroz hipocondria! - tanto me torna pensativo e doente
que já não sei mais o que é paz nem alegria.
A doença que me punge e esteriliza a mocidade e o espírito,
resulta de uma chaga que nunca cicatriza.
Muito embora comum a toda gente, a dor que sofro,
- atroz hipocondria! - tanto me torna pensativo e doente
que já não sei mais o que é paz nem alegria.
Sendo o mais sábio clínico do mundo,
sois também um filósofo notável.
Do peito humano auscultador profundo,
curareis este mal imensurável,
que me esmaga o organismo fibra a fibra,
que me corroí o cérebro e o condensa.
sois também um filósofo notável.
Do peito humano auscultador profundo,
curareis este mal imensurável,
que me esmaga o organismo fibra a fibra,
que me corroí o cérebro e o condensa.
Eu tenho um coração que já não vibra,
suporto uma cabeça que não pensa.
E este tédio mortal, tédio agoureiro,
que me consome e me escurece os dias,
é como os beijos dados a dinheiro
numa noite de orgias.
E este tédio mortal, tédio agoureiro,
que me consome e me escurece os dias,
é como os beijos dados a dinheiro
numa noite de orgias.
- O amigo tem razão, padece realmente.
Contudo, a enfermidade que o devora
é o produto fatal do século de agora.
Podes curá-la, creia apenas num momento.
O tédio é uma sombria, uma fatal loucura.
É a sombra anterior da longa noite escura,
onde se esquece tudo: a sorte, a vida ousada.
Contudo, a enfermidade que o devora
é o produto fatal do século de agora.
Podes curá-la, creia apenas num momento.
O tédio é uma sombria, uma fatal loucura.
É a sombra anterior da longa noite escura,
onde se esquece tudo: a sorte, a vida ousada.
Só se lembra um ser, só se lembra um nada.
Diga-me: alguma vez amou? Nunca estrugiu em seu peito,
como as ondas do mar que rugem e se encapelam
ao soturno rumor do vento e da procela?
Junto, bem junto ao seu, que de dores se junca,
bateu um coração apaixonado?
Diga-me: alguma vez amou? Nunca estrugiu em seu peito,
como as ondas do mar que rugem e se encapelam
ao soturno rumor do vento e da procela?
Junto, bem junto ao seu, que de dores se junca,
bateu um coração apaixonado?
- Nunca!
- Pois então amigo, procure a agitação constante!
Vá visitar a Grécia, o Oriente, a Terra Santa.
São sítios onde tudo se evoca e se decanta
as glórias de uma idade imorredoura e eterna,
que maravilha e deslumbra a geração moderna.
- Pois então amigo, procure a agitação constante!
Vá visitar a Grécia, o Oriente, a Terra Santa.
São sítios onde tudo se evoca e se decanta
as glórias de uma idade imorredoura e eterna,
que maravilha e deslumbra a geração moderna.
- Em híbridos prazeres passei a mocidade.
Percorri viajando o mundo e a humanidade
como o judeu da lenda.
Entre as mulheres todas cujos lábios beijei
em bacanais e bodas,
mulher nenhuma eu vi sobre a terra tamanha,
que para mim não fosse uma visão estranha.
Percorri viajando o mundo e a humanidade
como o judeu da lenda.
Entre as mulheres todas cujos lábios beijei
em bacanais e bodas,
mulher nenhuma eu vi sobre a terra tamanha,
que para mim não fosse uma visão estranha.
Como parti, voltei. Sem achar lenitivo
para este mal, doutor, que assim me traz cativo.
- Frequente o circo, amigo. A figura brejeira
do famoso Arlequim que a esta cidade inteira
palmas e aclamações constantemente arranca,
talvez lhe restitua a gargalhada franca!
para este mal, doutor, que assim me traz cativo.
- Frequente o circo, amigo. A figura brejeira
do famoso Arlequim que a esta cidade inteira
palmas e aclamações constantemente arranca,
talvez lhe restitua a gargalhada franca!
- Vejo agora, doutor, que o meu caso é perdido.
O truão de quem falais, o palhaço querido
que anda no Coliseu tão aclamado,
tem um riso de morte, um riso mascarado
que encobre a dor sem fim do tédio e do cansaço.
Sou eu, doutor, sou eu este palhaço!
O truão de quem falais, o palhaço querido
que anda no Coliseu tão aclamado,
tem um riso de morte, um riso mascarado
que encobre a dor sem fim do tédio e do cansaço.
Sou eu, doutor, sou eu este palhaço!
“Algum
dia, em qualquer parte, em qualquer lugar, indefectivelmente, encontrar-te-ás a
ti mesmo e essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga das tuas
horas.”
Pablo
Neruda
melhor ainda não ví
ResponderExcluirTambém gosto muito deste poema. Obrigada por comentar!
ExcluirQue linda poesia,muito profunda,as vezes muitos passam por essas situações.
ResponderExcluirLinda mesmo! E, que verdade! Obrigada por comentar.
ExcluirUm grande abraço!
Esta poesia é linda! Lembrei de meu querido, amado e saudoso pai que, dentre outras tantas,sempre declamava esta poesia. Saudades!!!
ResponderExcluirUm grande abraço à você!
ExcluirObrigada por comentar!
Não sei se por passar a minha infância inteira tendo que ouvir minha mãe recitar esta triste poesia, causou-me um mal incurável, me transformou numa pessoa pessimista e doente cuja doença, diariamente busco sua cura principalmente nas coisas pequenas, num bom bom dia ou num sorriso, mas com certeza existem leituras infinitamente mais saudáveis.
ResponderExcluirTambém eu ouvi meu pai declamar este poema. Com ele aprendi a amar a poesia. Infelizmente ele também se foi... Mas deixou-me muitas lembranças felizes e muitos ensinamentos, alguns, inclusive, através da poesia.
ResponderExcluirEste poema me faz pensar que muitas vezes somos nós este "palhaço" que faz sorrir enquanto que, intimamente, estamos tristes e nos sentimos no dever de fazer sorrir. No entanto, há momentos em que não externamos nossa felicidade e a sufocamos dentro de nós. Me engano?
A poesia me faz refletir.
Estou feliz pela sua visita e comentário. Espero que volte outras vezes.
Um grande abraço!
https://www.youtube.com/watch?v=akZKAtijeaA
ResponderExcluirObrigada Leonard! Gostei tanto! Emocionada!
ExcluirPapai sempre declamava esta poesia para a gente, com sua voz linda, era emocionante! Hoje fui procurá-la na internet para relembrar e mostrar para os meus filhos e... caí aqui...
ResponderExcluirParabéns pelo blog!
Obrigada Stella Girardin! Você será sempre bem vida! Fico feliz que tenha encontrado aqui neste humilde Blog o poema que você procurva. Um grande abraço! Volte sempre!
ExcluirAmei e é bom saber que mesmo diante das nossas dificuldades pessoais podemos mesmo assim ,encontrar forças para fazer outros sorrirem
ResponderExcluirMuito obrigada pela gentileza do comentário!
ExcluirÉ Mesmo assim, sorrimos para fazer sorrir. O que vai dentro do coração daquele que nos anima, bem poderia ser um remédio para suas proprias dores... Seríamos, quem sabe (?), assim, palhaços de nós mesmos remediando nossas íntimas tristezas...
Um grande abraço!