7 de janeiro de 2009

Despedida (Jader de Lima)

Franz Von Stuck -The Kiss of the Sphinx, 1895, 
oil on canvas, Szépmüvészeti Múzeum, Budapest. 

DESPEDIDA
Jader de Lima

Há muito que era noite: pela estrada
Um silêncio de sono se estendia.
- Tu ias perto de mim triste e calada,
- Perto de de ti calado e triste eu ia.

Era bem tarde, aos lampiões escassos,
Poucos passantes transitavam; montes,
Vales, outeiros se tornavam braços,
Limitando os extremos horizontes.

E nós levávamos no olhar a pena
De que, impiedoso, nos mandasse Deus,
Contra os momentos de alegria plena,
Os maus momentos de dizer adeus.

Ocultas emoções, de parte a parte
Vinham mansas, a furto nos tentar:
Em mim – o medo egoísta de deixar-te,
Em ti – o medo honesto de ficar.

Já no momento da separação,
Eu te falei: – amor, leva contigo
E guarda junto de teu coração
Meu coração de amante, irmão e amigo;

Leva com ele esta promessa linda
De que terei saudades de te ver;
Leva os meus votos de ternura infinda,
Todo o infinito do meu bem-querer;

Leva também meus pensamentos, feitos
Por dar-te culto intenso e permanente;
Graças a ti são nobres e perfeitos,
Pois foste tu que me inspiraste a mente.

E para que viva sempre esta esperança
De uma existência eternamente unida,
Leva a sublime esplendida lembrança
Desta noite – tão nossa – em tua vida.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
E então, mais bela sob a sombra vaga,
Numa ousadia encantadora e louca
Tu me beijaste e me disseste: - em paga,
Leva o gosto do amor em tua boca!